Garimpando Em Gibiterias Especial: Almanaques Turma da Tina, do Penadinho e do Astronauta na Editora Globo – Três Séries e Uma Numeração

O mercado de quadrinhos no Brasil é muito fraco, sejamos honestos. Lá fora, grandes obras permanecem em catálogo permanente tal como livros clássicos. Os editores de quadrinhos nacionais são bem imediatistas e até mesmo obras como Watchmen e Maus ficam difíceis de encontrar de tempos em tempos. A série “Garimpando em Gibiterias” fala de quadrinhos que valem a pena “garimpar” em gibiterias, sebos, estoques antigos de livrarias virtuais, feiras de livros e, se a grana estiver muito curta, em bibliotecas públicas. Sim, existem quadrinhos em bibliotecas públicas, é só procurar.

As pedras garimpadas de hoje são os Almanaques Turma da Tina 1, o do Penadinho 1 e do Astronauta 3 (?!) da Mauricio de Sousa Produções ainda em parceria com a Editora Globo. Ficou confuso? Continue.

Bom, pela numeração de capa das edições aqui apresentadas, fica claro que, desde a época da Editora Globo, Mauricio de Sousa e sua equipe queriam fazer três especiais semestrais, um dedicado a Tina, cujo número de capa 1 saiu em fevereiro de 2004, um dedicado ao Penadinho, cujo número de capa 1 saiu em maio de 2004, e um terceiro dedicado ao Astronauta, cujo número de capa 3 saiu em julho de 2004.

Tanto no expediente de Almanaque Turma da Tina #1, quanto no Almanaque Turma do Penadinho #1, está claro que as revistas eram para ser semestrais, cada uma com sua própria numeração. Mas algum executivo da Editora Globo na época preferia ter mais uma revista bimestral do que 3 semestrais e forçou, sabe-se lá com base em que cláusula contratual abusiva, o Mauricio de Sousa e sua equipe a alterarem o número e o expediente da que seria o Almanaque Turma do Astronauta #1, assim, o número 1 foi trocado pelo 3, que foi o número que saiu na capa. Também foi publicada uma errata que transformou todas as séries em uma única, o Almanaque Turma.

Ou seja, pela Editora Globo, saíram o Almanaque Turma da Tina 1, o Almanaque Turma do Penadinho 1, o Almanaque Turma do Astronauta 3, o Almanaque Turma da Tina 4 e assim por diante até que Mauricio de Sousa abandonou a Editora Globo e foi para a Panini para a alegria dos leitores que já não suportavam mais aquele papel-jornal xexelento em que as revistas da turminha passaram a ser impressas na Editora Globo, erro que achávamos que seria só em relação as primeiras edições depois da saída da MSP da editora Abril.

Na Panini, as numerações voltaram ao 1, os três almanaques se mantiveram como 3 séries semestrais, Tina e Penadinho são publicados até hoje, 2020, e o Almanaque Turma do Astronauta foi cancelado no número 13 em junho de 2013 pela editora Panini, ironicamente quando a releitura do Astronauta de Danilo Beyruth estava bombando entre o publico e a crítica.

A numeração distinta das séries na editora Panini é o que me leva a crer que foi alguém da Editora Globo que forçou os 3 títulos a terem numeração única, um desrespeito para com os personagens, para com os leitores, para com Mauricio de Sousa e para com toda a equipe criativa da MSP da época. O lançamento de outros almanaques semestrais na Panini, como o do Louco, por exemplo, só reforça ainda mais essa minha hipótese.

O Almanaque Turma da Tina, do Penadinho e do Astronauta traziam revistas inteiramente dedicadas a estes personagens que sempre estiveram no mix da Mônica, Cebolinha, Chico Bento, Cascão e Magali, mas que nunca tinham tido revistas próprias em décadas de existência.

Tina é a verdadeira Mônica Jovem, assim como o Rolo é o verdadeiro Cebolinha Jovem e assim por diante. Suas histórias sempre mostraram uma adolescente/jovem mulher entre o segundo grau (atual ensino médio) e o primeiro emprego, com seus dilemas típicos, amigos e todas as nuances e variações que envolvem estes períodos da vida ao longo das décadas de existência da personagem e de sua respectiva turma. Com efeito, a Graphic MSP, Tina Respeito de Fefê Torquato foi uma importante, merecida e brilhante celebração para a Tina, uma personagem que sempre mereceu muito mais destaque do que teve em toda sua trajetória.

Penadinho e sua turma satirizam filmes de terror de forma muito bem-humorada. Eles foram pensados para fazer as crianças perderem o medo de fantasmas, vampiros, lobisomens etc. Apesar do protagonismo do Penadinho, é a bem-humorada, carismática e divertida Dona Morte que sempre rouba a cena, ela é a melhor representação da morte nos quadrinhos mundiais.

O Astronauta surge como uma paródia de Flash Gordon. Suas aventuras misturam ficção científica de cinema, quadrinhos, televisão e até de livros com muito bom humor e com sacadas magníficas. Pena que foi descontinuado. Apesar do sucesso de público e crítica, não concordo com que os editores e Danilo Beyruth fizeram com o personagem. Ao levar o Astronauta a sério, ele deixa de ser uma paródia honesta e vira mais um plágio de Flash Gordon, que por sua vez já é um plágio de Buck Rogers. É mais honesto ser uma paródia do que um plágio de um plágio. Pena que a série de republicações de suas histórias originais foi e se mantém descontinuada.

Bom, deixe seus comentários com carinho e educação, pois eles serão lidos com carinho e educação. Este garimpo tem periodicidade indefinida, mas, se você quer conhecer mais, na área de pesquisa “Pesquisar no Blog”, digite “Garimpando em Gibiterias” e clique no botão “Pesquisar”. Ou digite apenas “garimpando” e encontrará títulos a mais em garimpos de eventos.

Correção: Houve um Almanaque Turma do Astronauta #14 que eu nunca encontrei no Rio de Janeiro, valeu Panini!

Boas leituras!

Rodrigo Rosas Campos